Líquor: tudo que você precisa saber para sua prática clínica!
O Líquido Cefalorraquidiano(LCR)ou Líquor é um fluido corporal límpido e incolor, com baixo teor de proteínas e poucas células.
O líquor é produzido nos plexos coroides dos ventrículos cerebrais e no epitélio ependimário,sendo que 70% dele é derivado de filtração passiva do sangue e secreção através do plexo coroide.
Como o líquor atua?
O LCR atua como um amortecedor, protegendo as estruturas cerebrais e medulares. Além disso, fornece nutrientes essenciais para o cérebro e possui importante função na remoção dos resíduos provenientes da atividade cerebral e no equilíbrio da pressão intracraniana.
Em condições normais, o LCR é produzido e reabsorvido continuamente em torno de 500 ml/dia, que pode variar de acordo com a estrutura corporal do indíviduo.
O líquor circula ao redor das estruturas cerebrais em íntimo contato com as membranas e células nervosas. Nesse contexto, ele reflete em sua composição as desordens neurológicas decorrentes de inflamações e infecções do sistema nervoso, especialmente as meningites e encefalites.
Como o líquor é composto?
O líquor apresenta baixo peso molecular e está em equilíbrio osmótico com o sangue. Ele é constituído de pequenas concentrações de:
- Proteína
- Glicose
- Lactato
- Enzimas
- Potássio
- Magnésio
- Concentrações relativamente elevadas de cloreto de sódio.
Glicose
os níveis de glicose no LCR são utilizados para diferenciar meningite bacteriana de viral.
A hipoglicorraquia no LCR é causada principalmente por alterações nos mecanismos de transporte de glicose através da barreira hematoencefálica e por sua grande utilização por parte das células encefálicas.
Os níveis de glicose se normalizam antes dos níveis de proteínas e da contagem de células durante a recuperação da meningite, tornando-se um parâmetro útil na avaliação de resposta ao tratamento.
Proteínas do líquor
As proteínas do LCR são constituídas em grande parte de albumina e em muito menor quantidade de globulinas.
A análise da quantidade total de proteínas no líquor é utilizada principalmente para detectar doenças do Sistema Nervoso Central (SNC), associadas com o aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica ou à produção intratecal de imunoglobulinas.
Valores anormalmente baixos estão presentes quando há perda de fluido no SNC, enquanto o aumento é observado em infecções, hemorragias intracranianas, esclerose múltipla, dentre outros.
Níveis de lactato no líquor
Os níveis de lactato no líquor, diferente dos níveis de glicose, não estão vinculados à concentração sanguínea, e sim à sua produção intratecal. Um aumento do nível de lactato pode ser detectado mais cedo do que uma concentração reduzida de glicose.
Por isso, para a diferenciação de meningite bacteriana de uma meningite asséptica, a concentração de lactato é um melhor indicador comparado a outros marcadores convencionais.
A elevação de lactato no LCR não se limita à meningite e pode ser resultante de qualquer quadro clínico que reduza o fluxo de oxigênio para os tecidos.
Lactato Desidrogenase (LDH)
Estudos têm demonstrado que pacientes com patologia intracraniana, como malignidade ou infecção bacteriana, apresentam níveis de LDH no líquor maiores comparados a pacientes saudáveis.
A LDH é útil na diferenciação de uma punção traumática de uma hemorragia intracraniana, já que, em uma punção traumática com hemácias não hemolisadas, não há um aumento significante dessa enzima.
Leucócitos
A contagem total de leucócitos no LCR representa o mais sensível parâmetro para caracterização de uma doença inflamatória do SNC.
No líquor de um adulto normal, há uma predominância de:
- Linfócitos (60%-70%)
- Monócitos (30%-50%)
- Neutrófilos (1%-3%).
Hemácias
O LCR normal não apresenta hemácias.A presença isolada de hemácias é frequentemente associada ao resultado de uma punção traumática.
Se presente em grandes quantidades (com exceção da punção traumática), é provável que haja um processo patológico. Três exames visuais do LCR podem determinar se o sangue é resultado de uma hemorragia ou uma punção traumática:
- Prova dos três tubos
- Formação de coágulo
- Sobrenadante xantocrômico após centrifugação ou sedimentação espontânea.
Como é feita a coleta do líquor?
Sendo o líquor um fluido biológico que está em íntima relação com o sistema nervoso central, a coleta desse fluido para análise, conhecida como punção lombar, constitui um método de grande valia para o diagnóstico e o acompanhamento de diversas afecções neurológicas.
A punção lombar é essencial ao diagnóstico de infecções virais, bacterianas e fúngicas do SNC e, em certos contextos, também é útil para o diagnóstico de hemorragia subaracnóidea, neoplasias, doenças desmielinizantes e síndrome de Guillain-Barré.
O número de indicações definidas da coleta diminuiu com o advento de melhores procedimentos de neuroimagem, incluindo tomografia computadorizada e ressonância magnética, mas a punção lombar urgente ainda é indicada para diagnosticar duas condições sérias: infecção do SNC (com exceção de abscesso cerebral ou processo parameníngeo) e suspeita de hemorragia subaracnóidea (HSA) em paciente com TC negativa.
Para a coleta do líquor, a agulha deve ser inserida no espaço entre a vertebra L3-L4 ou L4-L5, preferencialmente com o paciente em decúbito lateral com as pernas e coxas fletidas (em posição fetal).
Punção lombar não urgente
Uma punção lombar não urgente é indicada como ferramenta complementar no diagnóstico das seguintes condições:
- Hipertensão intracraniana idiopática (pseudotumor cerebral)
- Meningite carcinomatosa
- Meningite tuberculosa
- Hidrocefalia de pressão normal
- Sífilis do SNC
- Vasculite do SNC.
Punção lombar diagnóstica
A coleta do líquor também é exigida como manobra diagnóstica ou terapêutica nas seguintes situações:
- Anestesia subaracnóidea
- Quimioterapia intratecal
- Administração intratecal de antibióticos
- Introdução de contraste para mielografia ou cisternografia.
Quando contraindicar uma punção lombar?
Embora não haja contraindicações absolutas ao procedimento, recomenda-se precaução em pacientes com:
- Possível pressão intracraniana elevada
- Suspeita de abscesso epidural espinhal
- Trombocitopenia
- Outra diátese hemorrágica.
Complicações comuns do procedimento
As complicações mais comuns da punção lombar são:
- Dorsalgiaefaleia
- Dor radicular
- Paraparesia.
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Sugestão de leitura complementar
- Resumo de Sistema nervoso
- Sistema nervoso periférico
- Resumos sobre anatomia do Cérebro
- Resumo sobre Neurônios
- Meninges
- Resumo sobre medula espinhal
- Resumos de Meningite
Referências bibliográficas
- João Paulo S.Oliveira. Líquido cefalorraquidiano: história, técnicas de coleta, indicações, contraindicações e complicações: J. Bras. Patol. Med. Lab.vol.56Rio de Janeiro2020. Acesso em: 19 maio. 2021. https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1676-24442020000100303&script=sci_arttext&tlng=pt
- Luciana Ferreira Dimas; Marzia Puccioni-Sohler. Cerebrospinal fluid exam: influence of sample preparation, temperature and time on analytical stability: J. Bras. Patol. Med. Lab.vol.44no.2. Acesso em: 19 maio. 2021. https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-24442008000200006
- Laísa Vieira Gnutzmann; Jacqueline Plewka. Analysis of reference values of cerebrospinal fluid: Revista Brasileira de Análises Clínicas. Acesso em: 19 maio. 2021. http://www.rbac.org.br/artigos/analise-dos-valores-de-referencia-do-liquido-cefalorraquidiano-48n-3/